Receber um diagnóstico de câncer significa ter uma doença que muitos não querem nem mencionar e muito menos nomear.
É receber olhares de pena e de piedade, é ter que sentir e suportar o pensamento que os outros têm de que você vai morrer e pronto.
É saber que muitos ao terem conhecimento de sua doença já pensam logo:
Quanto tempo de vida lhe resta?
Dezenas de outras doenças silenciosas matam até mais do que o câncer, mas não provocam nas pessoas essa conclusão tão definitiva.
O câncer não é só uma doença, são centenas e todas variam em tratamento, intensidade e agressividade, cada caso é um caso, mas todas igualmente são encaradas com medo imenso.
Nada se compara a impotência que sentimos no momento que o médico confirma a malignidade e o estágio do tumor.
Isso porque até ouvir a sentença já muito tínhamos orado e implorado para que aquele cálice de nós fosse afastado.
Que nada fosse ou para que ao menos fosse benigno, até ouvir do médico com todas as letras frias e profissionais, e ver a nossa frente nada menos que um longo túnel imerso na escuridão.
Enfim essa é a hora da verdade em que parece que o mundo sobre nós desaba, é a hora de ter força e fé.
O câncer tem o poder de modificar para sempre quem o enfrenta.
Em mim o câncer teve e está tendo o poder de me transformar.
O câncer me tirou o hábito de olhar para o passado e para o futuro e tornou a minha vida uma sucessão de presentes, porque cada dia se torna realmente um presente, cada instante se torna precioso.
O câncer me fez ter mais empatia pelo meu próximo também doente.
Faz-me pensar todos os dias nas pessoas que fazem ou tentam fazer seu tratamento, que percorrem longas distâncias em busca de sua cura, ou de um pouco de conforto e algum alívio.
Muitos desses que só tem algum alimento se o hospital fornecer ou se alguém ajudar, pois não tem condições de comprar nada.
O câncer me curou da vaidade.
Livrou-me de muitas futilidades.
Aprendi a reclamar menos e agradecer mais a todo instante.
O câncer me curou de perder tempo com discussões tolas e fúteis, não tenho mais paciência, agora simplesmente dou um basta e sigo em frente em nome da minha paz e tranquilidade.
Mostrou-me que tudo fica muito pequeno diante do fato de ter que enfrentar um tratamento em que o prêmio é a vida e a derrota é a morte.
Aprendi a ficar mais reservado, quando me perguntam como estou, invariavelmente digo que estou bem e vou ficar melhor ainda, não entro em maiores detalhes.
Aprendi que tem gente lutando como eu, com esperança e fé e têm gente que cumpre os protocolos com desespero e desesperança, os olhares tristes e perdidos num vazio infinito.
O câncer me curou das minhas certezas, de achar que estou sempre com a razão.
O câncer traz ou reforça a fé para muitos e infelizmente para outros destrói os fiapos da fé que diziam ter.
O câncer me mostrou que em se pedindo e tendo fé, a força divina nos envolve, nos embala, nos protege, nos acalma e nos encoraja.
O câncer me mostrou que só quem passa por ele é que consegue entender o que ele significa de verdade:
Longas esperas entre exames, a ansiedade enorme por cada resultado, o medo e a incerteza das cirurgias, o terror das rádios e das quimioterapias.
O Câncer me ensinou a perdoar há quem muito me magoou e hoje eu posso dizer que sou mais livre do que jamais já fui.
Em cada sessão de quimioterapia que fiz, cada uma de longas e terríveis 52 horas num total de 572 horas por meses consecutivos, entendi que enquanto a quimioterapia mata quaisquer vestígios do câncer que possam ter ficado após a cirurgia e não o deixa voltar, eu tenho minha oportunidade de renascer de novo.
Que a cada dia, Deus me fortaleça e me ajude a alcançar o milagre que tanto espero e acredito, de ao final de mais três longos anos eu possa receber a alta completa.
Que Deus ajude e abençoe todos quantos estejam também nessa dura luta, travando a mais temível das guerras para salvar suas vidas ou ainda viverem até onde Deus permitir, com dignidade.
AHMAD SERHAN WAHBE.
AO
Hospital do Amor de Barretos / São Paulo
Minha imensa e eterna gratidão!!!
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