Falar de amor é um tema altamente espinhoso visto que desde o inicio dos tempos, escritores, poetas e seres humanos de todos os tipos, de todas as raças e de todas as religiões e até mesmo aqueles que não tem religião alguma dele falam, o analisam e de alguma forma todos tem algo a dizer sobre ele e quase sempre tudo é igual e ao mesmo tempo tudo é diferente.
Tenho notado que as pessoas acham que tudo é amor provocadas por sensações tais como a atração física pura e simples, paixões, amizades coloridas, afinidades de algum tipo e até mesmo alguma afinidade sexual que normalmente ocorre quando existe carência dessa necessidade básica do ser humano que o faz iniciar uma busca frenética para preencher essa falta e normalmente faz com que erros terríveis sejam cometidos, é comum que se inspire um sentimento maior a alguém sem necessariamente sentir o mesmo e isso pode desencadear em uma série de problemas que ao longo do tempo fatalmente irá explodir, talvez isso explique o grande aumento no numero de separações bem como tantas pessoas não serem felizes.
Comum também todo mundo dizer "eu te amo" a todo momento para qualquer pessoa, ficam uma vez, gostam de ter ficado e é natural gostarem na medida que sua carência foi momentaneamente suprida, se agarram a sensação de terem criado um vinculo, estacionam em uma zona de conforto e logo bradam: eu te amo, eu te amo, como se fosse a coisa mais comum do mundo, penso que essa é uma frase composta de palavras muito importantes que devem ser muito pensadas e sobretudo e principalmente "sentidas" antes de serem proferidas .
Penso e até mesmo fantasio que amor com certeza teria que ser um sentimento muito mais forte, aquele sentimento que soma a atração, o fogo, a paixão, o carinho, e a afeição com o desejo de estar junto, de passear de mãos dadas, de se olhar nos olhos e de ler a alma do outro em absoluto silêncio, aquilo de um querer ser e estar no outro, os dois querendo ser um, mas continuando a ser dois e se completando de todos os modos, suprindo um do outro todas as carências, tanto na sua presença quanto na sua ausência.
Muitos falam em grandes e pequenos amores, gosto de pensar que amor não tem meios de ser medido dessa forma, é O amor quando junta tudo o que foi falado e ainda mais, dá uma saudade profunda na ausência do outro de tal forma que a vida perde o sentido de ser, tudo perde a graça, não tem nem o sal e nem o açúcar que tempera e que dá gosto e sabor a tudo, mas ao mesmo tempo a lembrança do ser amado sempre presente na mente faz com que o fardo da ausência seja mais leve, sim, é controverso, eu sei, mas penso assim.
Contudo penso também que não existe essa história de aceitação total do outro, existe sim um esforço para que as arestas se aparem para que as diferenças se completem e se encaixem com perfeição, nem por ser um forte sentimento que tudo vai ser suportado numa boa, para que seja e continue sadio exige honestidade, transparência, o desejo sincero da partilha de todos os bons e maus momentos, exige sinceridade acima de tudo e sobre tudo, (as mentiras são como um veneno lento e fatal), só assim pode sim sobreviver a tudo e a todos.
Caso essa confiança seja quebrada pode até continuar vivo e pulsante nos corações quebrantados e doloridos mas com certeza pode e será amortecido e adormecido até chegar à indiferença total, poderá até mesmo se transmutar em ódio em uma boa parte, situação horrível que com o passar do tempo e com o fechamento da ferida aberta e latejante voltará para a simples indiferença, não que o tempo tudo cure e tudo apague mas com certeza com o passar do tempo haverá uma cicatriz.
Perdoar setenta vezes sete, de tudo aceitar, amar incondicionalmente, isso tudo pode funcionar para espíritos de luz, altamente evoluídos, mas com certeza não é deste mundo.
Por mais que o amor desiludido e enganado teime em se mexer, agonizar e se contorcer, vai se aquietando e se encolhendo e tem que ser assim para não se transformar em masoquismo, que é o nome que se dá para quem gosta de sofrer, está sofrendo, continua sofrendo e pouco ou nada faz para mudar essa situação, há que considerar que existe também em cada um o amor próprio, que nada mais é do que o instinto de sobrevivência de cada um e esse sentimento deve ser exaltado e bem cultivado pois se alguém não se amar como poderá amar a outro alguém?
Se existir um sentimento assim deverá ser muito infeliz aquele que o joga fora ou o perde por vacilo, indecisão, fraqueza ou insinceridade, pois com certeza mesmo a mais bela e mais forte das rosas quando agredida continuamente pelo forte sol escaldante, quando sem água e cheia de ervas daninhas...sucumbe...morre, e por mais belo e forte que um dia pudesse ter sido aquele sentimento... será com certeza destruído e esquecido.
As vezes penso que esse tipo de sentimento tão sonhado e almejado por tantas pessoas, toda essa poesia e magia pode não passar de fantasias ou quem sabe histórias da carochinha que nos contaram quando crianças para amenizar a dura realidade, meras utopias...sentimentos assim talvez não sejam desse mundo, não desse mundo que conhecemos.
Mas a grande certeza que tenho é que na verdade não tenho certeza de nada e com certeza será afortunado nessa vida quem tenha o privilégio de ter e pulsar em si esse sentimento e em sendo assim seria digno de se fazer tudo para cultiva-lo, mante-lo e engrandece-lo.
AHMAD SERHAN WAHBE