Ah, se as
paredes falassem, ah, se repetissem os gemidos roucos, as palavras por vezes
sussurradas ao pé do ouvido e em cada sussurro causando um gostoso arrepio, em outras
vezes os sussurros se transformam em gritos ditos em guturais vozes, não menos
excitantes, ah, ainda bem que as paredes nada veem, não falam e são surdas,
ainda bem, por que se assim não fossem, deixariam de ser paredes e fiéis
abrigos, criariam vida própria e algumas sairiam correndo cheias de um vivo
rubor, outras ficariam indignadas e de pavor paralisadas e outras ainda, as
pervertidas, ficariam bem quietinhas só para tudo assistir e nenhum detalhe
perder para depois às outras tudo narrar com os detalhes mais apimentados possíveis
, ah, as paredes, que bom que existem, as quatro, seguras e fiéis paredes que
separam os instantes de loucura, momentos de absoluto encanto do mundo frio e
mecânico lá de fora, dentro dessas paredes não se pensa em como ganhar a vida e
em todo o custo que ela tem, não se pensa em tristeza nem em melancolia, dentro dessas mágicas paredes simplesmente não
se pensa, dentro dessas paredes é onde se vive de verdade, onde tudo adquire
uma luz mais intensa mesmo que seja em meia luz ou com tudo imerso em total
escuridão.
AHMAD SERHAN
WAHBE
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